Confesso que vivo hoje um pouco assustado, não quero ser alarmista nem pessimista. Hoje vivemos como se não tivéssemos passado nem futuro, vivemos em correria sem tempo para olhar para traz nem para a frente, vivemos apenas o hoje, o agora. Depois logo se vê. Não consigo imaginar onde é que vamos parar com esta visão da vida, é uma espécie de obsessão do presente, o que faz com que cada vez mais as pessoas só pensem no imediato. Sempre gostei de ouvir os mais velhos, aprender com os seus conhecimentos, que também eles aprenderam com os outros mais velhos, também os mais novos têem sempre coisas para nos ensinar. Assistimos hoje que, com a maior das leviandades se ignora os mais velhos, colocando-os à margem da sociedade ignorando todos os seus conhecimentos, acham-nos um empecilho porque representam um passado que não interessa e menospreza-os porque são pouco produtivos na lógica do hoje. Colocam-nos em lares luxuosos, outros nem por isso, onde em principio não irão incomodar. É-lhes permitido que durem mais mas não que existam de verdade. Ficam assim impedidos de serem cidadãos com plenos direitos e de nos darem a conhecer melhor as memórias do passado para que pudéssemos melhor compreender o presente. É minha convicção que ao ignorarmos o passado não aprendemos, perdemos a grandiosidade da experiência, da sabedoria que a tradição dos séculos nos dá, coisas que já atravessaram muitas gerações, que passaram de mão em mão, um ciclo, que a meu ver erradamente estamos a querer cortar. Ao ignorar-mos o passado estamos a comprometer o futuro porque quem vive só para o hoje está a ignorar o amanhã, não guarda nada do passado nem semeia nada para o futuro, apenas desfruta. Deste modo abdica de transmitir valores e tradições, que vêem do passado aos que nos hão-de suceder. Não se dá nada ao passado nem se empresta ao futuro, quer-se tudo para si e já. A sociedade de hoje deveria parar um pouco e pensar, eu acho que estamos perante um desafio grande e muito sério. Talvez fosse o tempo certo para se reforçar a solidariedade entre o passado o presente e o futuro, reforçar o ciclo da continuidade para melhor podermos gerir o presente, mas também continuar o passado e viabilizar o futuro. Nós por certo iremos sempre fazer parte da história mas não fomos nós que a começamos e também não irá acabar connosco. Por isso vamos todos respeitar o passado para melhor vivermos o presente e construirmos o futuro…